Um estudo da consultora e corretora XTB indica que a reação tardia à tendência mundial para a mobilidade elétrica levou a indústria automóvel alemã a perder quotas de mercado, entrando em crise.
Às ameaças do Grupo Volkswagen de cortes salariais, despedimentos e encerramento de unidades, pelo menos na Alemanha, os sindicatos respondem com greves e assim se perceciona a crise que está a afetar a indústria automóvel na maior economia europeia.
Tendo em conta que o setor automóvel alemão representa um valor acrescentado bruto de 127,8 mil milhões de euros, 4,5% do PIB, e 2,2 milhões de empregos, 7% do total do país, a atual situação faz tocar as campainhas de alarme entre os germânicos e, inevitavelmente por toda a Europa.
Após a pandemia do coronavírus, que levou a perturbações na cadeia de abastecimento global e a uma queda acentuada da procura em 2020 e 2021, o setor automóvel alemão demorou a arrancar. “A partir de 2023, a indústria automóvel viu-se confrontada com a diminuição das vendas, em especial no mercado chinês, onde a procura de veículos com motores de combustão diminuiu significativamente. Ao mesmo tempo, a concorrência da China, em particular no domínio da eletromobilidade, tornou-se mais forte, não só na própria China, mas também na Europa”, salienta o estudo da XTB a que o LusoMotores teve acesso.
Se as ações da Volkswagen até resistiram às quedas iniciais nas vendas, têm registado uma forte tendência descendente desde o início de 2021 – estão atualmente a ser negociadas um pouco acima dos seus mínimos de 2020 e dos seus níveis de preços de 2010.
A avaliação da Volkswagen é historicamente baixa, com uma capitalização de mercado de cerca de 45 mil milhões de euros, e a escassa procura de ações da marca dever-se-á principalmente à feroz batalha pela quota de mercado na China e no domínio da mobilidade elétrica, segundo a análise da XTB.
Para a consultora, um dos grandes problemas que se coloca à indústria alemã prende-se com a reação tardia à tendência para a mobilidade elétrica. Além disso, a indústria automóvel alemã tem registado problemas com questões de software, o fator fulcral no desenvolvimento de veículos autónomos e da mobilidade associada.
O fabricante americano de automóveis eléctricos Rivian e a Volkswagen criaram uma empresa comum sob a designação ‘Rivian Volkswagen Group Technologies’. Só que a startup de veículos elétricos dos EUA regista problemas financeiros, e não é certo se irá assegurar os fundos necessários e o acesso a uma rede de produção global através da cooperação com o construtor alemão.
Em contraponto, a análise da consultora XTB realça que a Tesla demonstrou a rapidez com que uma empresa pode crescer se se concentrar nos veículos eléctricos e nas inovações tecnológicas. Também os fabricantes chineses assumiram uma posição dominante neste sector, não só através de uma produção eficiente em termos de custos, mas também da inovação e do apoio governamental. Em conclusão, os fabricantes alemães têm de acompanhar este ritmo para não perderem mais quota de mercado.