Depois de muitas ameaças, o presidente dos Estados Unidos (EUA) anunciou que vai impor tarifas de 25% sobre as importações de carros e componentes automóveis já no dia 2 de Abril. Portugal até pode escapar aos efeitos drásticos da medida, sendo que a União Europeia lamenta “profundamente” e os construtores europeus alertam que as taxas vão afetar todas as economias.
Quarta-feira à noite, na Casa Branca, Donald Trump – que até tem uma interessante coleção de carros – justificou a medida dizendo que a mesma “vai continuar a estimular o crescimento” do seu país, ‘convidando’ mesmo as empresas do setor automóvel a instalarem-se nos EUA: “Se construírem o vosso carro nos EUA, não há tarifas”, palavras do presidente norte-americano.
Dois dias antes deste anúncio, Trump realçou os planos do fabricante sul-coreano de automóveis Hyundai de construir uma fábrica de aço no Estado do Luisiana, no valor de 5,8 mil milhões de dólares, como prova de que as tarifas trariam de volta os postos de trabalho na indústria transformadora.
Ao anunciar as tarifas de 25%, Trump atacou as empresas que, nas últimas décadas, abriram instalações no Canadá e no México, o que, segundo o próprio, foi feito às custas dos trabalhadores americanos. Com a medida, o presidente dos EUA espera gerar uma receita fiscal de 100 mil milhões de dólares, cerca de 93 mil milhões de euros.
No ano passado, os Estados Unidos importaram cerca de 8 milhões de automóveis e camiões ligeiros no valor de 244 mil milhões de dólares, cerca de 226 milhões de euros, com o México, o Japão e a Coreia do Sul a serem os principais fornecedores de veículos estrangeiros.
Já as importações de peças para automóveis ascenderam a mais de 197 mil milhões de dólares (182 mil milhões de euros), com o México, Canadá e China a serem os principais fornecedores.
Lamento de Von der Leyen
Numa primeira reação à medida de Trump, a presidente da Comissão Europeia disse lamentar “profundamente” a imposição de tarifas aduaneiras pelos EUA na importação de automóveis.
Ursula von der Leyen diz que as tarifas de Trump sobre os automóveis “são impostos maus para as empresas” e “piores para os consumidores, tanto nos EUA como na União Europeia”.
Mais enérgica é, para já, a posição do governo alemão, que exige uma resposta à altura com “firmeza” da parte da União Europeia.
Em comunicado, o ministro da Economia e vice-chanceler Robert Habeck firmou que “deve ficar claro que não nos curvaremos perante os Estados Unidos”, mais sabendo que as tarifas de 25% irão afetar seriamente o setor automóvel alemão.
A apreensão é também grande da parte dos construtores europeus com a diretora-geral da ACEA, a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis, Sigrid de Vries, a pedir a Trump “que considere o impacto negativo das tarifas, não apenas sobre os fabricantes globais, mas também sobre a indústria nacional dos EUA”.
De facto, até o multimilionário Elon Musk, já reconheceu que reconheceu que a sua Tesla não será poupada com as medidas tarifárias do amigo Donald Trump.
Na rede X, Musk assumiu que “a Tesla não saiu ilesa deste problema. O impacto das tarifas na Tesla continua a ser significativo”, sabendo-se que a marca é grande importadora de componentes automóveis.
Esta quinta-feira, os fabricantes europeus e asiáticos caíram na abertura das bolsas mundiais, devido ao anúncio do presidente dos EUA.
Portugal a salvo?
Até ver, Portugal pode não ser muito afetado pelas novas tarifas de Trump, já que os EUA não são um destino comum para os veículos produzidos no nosso país.
Em janeiro passado, os dados disponibilizados pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP) mostram que apenas 5,4% dos veículos foram exportados para o continente americano, ou seja 1.237 de um total de 22.950 unidades.
O secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, em declarações à agência Lusa frisou que “somos um país com produção automóvel, temos mais de 300 mil veículos produzidos em Portugal e esta produção é para exportação, mas, sobretudo, para a União Europeia, portanto não há aqui uma exposição significativa da nossa produção nacional aos Estados Unidos”.
Em declarações à RTP 3, Hélder Pedro defendeu, contudo, que a Europa deve “contestar esta medida”, esperando que a União Europeia “dialogue no sentido de reverter ou minimizar estas tarifas.”
Para o secretário-geral da ACAP, “o “isto é negativo para todos, até para os americanos. Metade da produção é para exportar, mas ao encarecer componentes automóveis importados, a produção local dos EUA vai, logicamente, ficar mais cara. Os consumidores americanos irão sofrer e os construtores americanos perdem oportunidade de continuar a desenvolver o produto automóvel”.