O piloto português Mário Patrão vai participar na edição de 2017 do Rali Dakar como chefe de fila da equipa KTM Portugal, passando assim a contar com uma estrutura profissional , que lhe permitirá ambicionar voos mais altos, depois de ter sido 13.º classificado da geral das motos e vencedor da categoria Maratona na prova deste ano.
Na conferência de imprensa sobre a sua participação no Dakar 2016, realizada esta quarta-feira na sede do Credito Agrícola, principal patrocinador do piloto, em Lisboa, Mário Patrão foi surpreendido pela KTM Portugal, que, além de apresentar publicamente rasgados elogios à prestação do “motard” de Seia na edição deste ano do rali, anunciou ter já planificada uma equipa de fábrica, na qual Patrão será a “estrela” maior.
Esta nova estrutura lusa, planeada para os próximos três anos, contará ainda com quatro pilotos, um dos quais será o “mochileiro” de Mário Patrão, uma equipa de mecânicos, um camião de assistência e carros de apoio, oferecendo assim as condições de que o senense não dispunha para enfrentar a mítica maratona de todo-o-terreno.
Além do apoio a Patrão, que é uma forma de reconhecimento pelo seu trabalho e sucesso enquanto piloto privado no Dakar, a nova equipa com o apoio da marca austríaca poderá servir de rampa de lançamento para outros jovens pilotos lusitanos.
Confrontado com este inesperado desafio, que acarreta novas e maiores responsabilidades, Mário Patrão assumiu estar “muito contente” com o projecto e mostrou muita vontade de trabalhar, demonstrando, desde logo, ambição para lutar pelo melhor resultado possível no Dakar 2017.
“Com condições melhores, vamos estar melhores e andar mais na frente”, frisou o piloto de Seia, que teve também a confirmação de que poderá contar com o apoio do Crédito Agrícola, dando continuidade à ligação que dura desde 2006. “Vamos à luta!”, concluiu.
Nova moto e maior experiência foram aliadas em 2016
Antes ainda de ficar a par da proposta para a próxima edição da prova, Mário Patrão abordou a sua participação no Rali Dakar 2016, disputado na Argentina e na Bolívia, tendo feito um balanço claramente positivo, numa prova em que foi 13.º posicionado da tabela geral e primeiro da classificação da classe Maratona, na qual não é permitido modificar os elementos originais da moto ao longo do evento.
Questionado pelo LusoMotores sobre quais teriam sido os principais factores para alcançar o seu melhor resultado de sempre no Dakar, Mário Patrão apontou como “mais-valias” a sua nova KTM 450 Rally, que lhe mostrou muita fiabilidade na primeira semana e o deixou confiante para atacar mais na segunda, e destacou também a maior experiência neste rali, adquiridas nas três anteriores participações, que lhe permitiu gerir melhor diversas situações, como, por exemplo, a leitura do “road book”.
Apesar de ter admitido que, em sua opinião, tinha “moto para mais”, Patrão referiu que optou por começar “passo a passo”, “sem exageros”, e só posteriormente, já com total confiança na prestação da sua nova máquina, que levou alguns ajustes antes da prova, aumentou o ritmo e alcançou um resultado final que o deixou “contente”.
Numa prova tão dura como este Rali Dakar, Mário Patrão falou também das diferenças entre os pilotos oficiais das equipas de fábrica e os privados, com condições muito díspares e que acabam por condicionar parcialmente a abordagem à competição. “Ao contrário dos pilotos oficiais, não temos luxos: temos uma tenda e um mecânico contratado conhecido. […] No Dakar, sei as condições que tenho, sei as limitações e o que posso fazer”, sublinhou.
Curiosamente, ele próprio acabou por ajudar um piloto oficial, mais concretamente o compatriota Paulo Gonçalves (Honda). “Ele pediu-me ajuda para trocar o motor. Desmontámos a moto de um colega dele e ajudei-o a montar a dele, de maneira a evitar que levasse 15 minutos de penalização”, contou o piloto de Seia, quando questionado sobre o seu desportivismo nesse episódio.
Como maior dificuldade, Patrão apontou o facto de não conseguir descansar devidamente, confessando que chegou a adormecer na moto, por dormir em média três horas, uma vez que à noite dedicava muito tempo às notas do “road book”, pois tem consciência da sua importância e das graves consequências que poderão advir de falhar uma simples indicação.
O evento organizado na sede do seu principal patrocinador, com o intituito de distinguir a sua excelente prestação em terras sul-americanas, culminou com uma sessão de autógrafos aberta a fãs do piloto, tendo sido muitos os elogios e palavras de apoio dados a Mário Patrão, que retribuiu com muita simpatia e disponibilidade.
Texto e fotos: Sérgio Mendonça