Quando fui ao encontro deste modelo, a primeira pergunta que me fizeram foi exactamente o que achava do mesmo, e isto ainda antes de o ter testado. Sem me ter sentado sequer ao volante apenas pude deixar uma resposta óbvia: a base é boa, tem que ser bom. Referia-me ao Hyundai i30, o modelo que dá origem a esta máquina, o i30 N, mas no final do ensaio, e já tendo em conta a prestação do i30 N, então não é que foi mesmo bom!? Muito bom!
À partida, pensar que este modelo poderá ser uma entrada para uma gama N que a Hyundai quer aprimorar e fazer crescer e vingar, como outras marcas já conseguiram com os AMG (Mercedes) ou com os M (BMW), permite-nos ter expectativas pelo menos interessantes, para não dizer mesmo elevadas. Afinal, o bloco propulsor desta unidade, 2.0 TGDI i30 N, capaz de debitar 275cv, revelou-se sempre generoso e disponível para as exigências do meu pé direito sobre o pedal do acelerador, apoiado por uma caixa manual de seis relações que ajudou sempre a encontrar a melhor prestação. É claro que factores como o peso do conjunto ou uma altura ao solo que poderia ser ligeiramente mais reduzida poderiam permitir um compromisso ainda mais favorável à performance, mas este é afinal um procuro comercial para cliente final já que, para corridas a sério, as preparações e os detalhes finais não aparecem neste i30 N que agora houve a oportunidade de testar.
A impressão inicial permitida por este hatckback Hyundai resulta a partir da cor azul clara em que nos é apresentado, a cor que o construtor sul-coreano pretende “colar” a esta gama N. Depois, entrados a bordo, é a vez do som e da vibração permitida pelo motor nos envolver e convencer. Pelo caminho até ao habitáculo já houve tempo para dar conta do logótipo N nas pinças dos travões dianteiros, na grelha dianteira e na secção traseira, ainda no volante e no selector de velocidades, um N que se refere a Namyang, local onde se encontra o centro de pesquisa e desenvolvimento da Hyundai, onde foi desenvolvido este “brinquedo”, mas também a Nurburgring, o traçado germânico por onde passou o aperfeiçoamento deste modelo.
Mais do que os locais determinantes na história deste Hyundai i30 N, este logótipo N simboliza também uma chicane, uma sequência de curvas onde este modelo foi testado e levado ao limite. Há um ano, mais concretamente em Maio de 2017, dois modelos i30 N, semelhantes aos de produção em série, competiram nas 24 horas do ADAC Zurich em Nürburgring, tendo já então usado mesma motorização e transmissão agora disponível e que pude admirar em termos práticos.
O i30 N vem marcar uma nova era para a Hyundai, introduzindo o primeiro modelo de alta performance sob a submarca N, construído para proporcionar aquilo que o construtor pretende que seja um emocionante prazer de condução a partir de um modelo nascido na pista. Construído para proporcionar a sensação de estar a conduzir um automóvel de corrida na vida quotidiana, este i30 N consegue isso mesmo, garantindo facilmente uma fusão perfeita com o condutor.
Impossível é esquecer as características únicas deste modelo i30 N, até porque foram várias as vezes em que em plena estrada, condutores de outros automóveis fizeram questão de acompanhar, ver melhor, elogiar e lançar olhares com tanto de aprovador como de desejo de comigo trocarem de lugar.
No volante, os selectores ali colocados permitem a opção entre cinco modos de condução que pude escolher de acordo com a minha vontade em cada momento, mas também a procurar a prestação mais adequada ao tipo de estrada mais ou menos sinuosa ou mesmo às respectivas condições, entre Normal, Eco, Sport, N e Custom. Estes modos de condução permitem alterar o comportamento do automóvel – ajustando os parâmetros de performance do motor, a suspensão, o ESC (Controlo Electrónico de Estabilidade) e o E-LSD (Diferencial Electrónico Autoblocante), mas também o já referido som do motor e a direcção.
O controlo electrónico de estabilidade (ESC) permite regular a rigidez da suspensão – oferecendo desde conforto para as deslocações diárias até uma performance de corrida no modo N –, havendo ainda a destacar o "Launch Control", funcionalidade que reduz o binário quando inicia a aceleração do automóvel, concedendo maior rapidez ao arranque.
Quanto a outras funcionalidades, nota para a “Rev Matching”, de série, capaz de ajustar automaticamente as rotações do motor quando, ao volante, colocamos uma mudança mais baixa para uma “redução” mais suave ou de uma maneira mais desportiva.
Nota ainda para a prestação do diferencial electrónico autoblocante (E-LSD) que neste Hyundai i30 N permite que as rodas em movimento mudem de direcção a diferentes velocidades ao aplicar diferentes quantidades de binário nelas, assegurando em todos os momentos a melhor performance em curva. O sistema de válvulas de escape permite que o condutor seleccione a configuração de som de escape que mais se adequa ao momento, desde um nível normal até um nível de elevada potência, dependendo do modo de condução. Nota ainda para a carroçaria rebaixada e a suspensão directa que, fazendo parte do design, tem o propósito mais real de permitirem maior estabilidade em estrada.
Com tudo isto, até me esqueci de dizer que já há muito que saí para a estrada, deixando-me levar pelo fantástico cantar do bloco de 2.0 litros, num carro em que o controlo que nos é permitido é soberbo. A direcção responde a preceito, os pesos de todo o conjunto bailam ao jeito dos pés nos pedais e da acção de condução sobre o volante, e o resultado é tão apaixonante quanto divertido, e por causa disso mais apaixonante ainda.
Discreto o quanto baste, este “hot hatch” da Hyundai, apresenta a capacidade de se transformar facilmente em um automóvel familiar. Porém, é no convívio “privado” com o i 30 N que este consegue ser cúmplice do condutor, até permitindo aqueles exageros que em família ficam proibidos quase que por instinto a quem conduz. Concluído o ensaio, fica a vontade de não nos separarmos assim tão facilmente deste automóvel, algo que tive que fazer, naturalmente, mas assumidamente contrariado.
Para trás ficava um Hot Hatch de 250cv e 353nm de binário (275cv com o pack N Performance), um modelo que está disponível no mercado português com preços a partir dos 39.500€, valor que avança para os 42.500€ com a opção pelo “pack” N Performance. Para breve, ao que tem vindo a ser revelado pela imprensa internacional, estará a chegar uma versão fastback do i30 N, certamente com o mesmo motor 2.0 mas permitindo já uma transmissão automática ao contrário deste que apenas permite para já uma caixa manual. Ainda assim, para já há apenas que desfrutar daquilo que existe, este soberbo Hyundai i30 N que pude testar para o LusoMotores com uma impressão final deveras positiva.
Não deixe por isso de passar por um concessionário Hyundai e, perante o i30 azul claro, deixe-se seduzir e não perca a oportunidade de fazer o seu próprio ensaio ao jeito de testdrive. Imperdível.
ensaio: Jorge Reis