Jorge Zózimo da Fonseca, fundador e principal responsável por esta empresa na área da formação profissional, falou ao LusoMotores sobre a realidade da Formoprojectos , a maior empresa para a formação no sector automóvel, entidade que tem acompanhado com um papel determinante os últimos vinte anos daquele sector...
Um convite da Ford Lusitana para a criação de uma entidade que apresentasse um projecto credível na área da formação levou Jorge Zózimo da Fonseca, engenheiro mecânico e professor no ensino superior, a avançar em 1990 com um projecto que mereceu a aprovação da empresa, depois de uma avaliação ao mais alto nível pelos responsáveis do construtor na Alemanha. Nascia então a Formoprojectos, no início com apenas quatro pessoas e que desde então jamais parou de crescer.
Engenheiro mecânico e professor no ensino superior desde 1975, nas áreas dos motores e dos automóveis, Jorge Zózimo da Fonseca tem conjugado as suas funções com as de professor no Instituto Geográfico do Exército e no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa desde 1978.
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Pelo caminho desenvolveu a sua vida profissional em ensaio de motores em efeitos de potência, tendo feito vários ensaios com novos combustíveis, tendo trabalhado então na área da cogeração, no aproveitamento de motores para produzir energia eléctrica, num tema que defendeu na sua tese de mestrado, em 1989/1990. Por essa altura surgiu então o convite da Ford Lusitana para que criasse uma agência de formação, desde que esta fosse assente num projecto credível, surgindo então Formoprojectos.Com o aumento das solicitações na área da formação, a empresa passou a ter quatro formadores em simultâneo, o que na altura coincidiu com os processos de certificação. Depois, com a aposta da Ford, a partir de 1992, na introdução no mercado, devido às emissões gasosas, de componentes mais sofisticadas nas viaturas, houve uma necessidade suplementar de acções de formação.
O grande salto da Formoprojectos aconteceu, no entanto, com a certificação da empresa, conseguida através de processos de certificação que abrangem quase todas as disciplinas da área automóvel, e de acordo com os diferentes componentes, desde o ar condicionado ao motor, passando pela caixa de velocidades, transmissões e outros. Por esta altura, o envolvimento da Ford era já maior, mas em 1994 a Formoprojectos começava a ser solicitada por outras marcas, isto quando ainda havia um contrato de exclusividade com a marca da oval azul. Para contornar este contrato foi criada uma segunda empresa, a Sociedade de Abrantes, que na altura começou a trabalhar com as outras marcas, mas sempre com a aposta concentrada na área da formação.
De acordo com Jorge Zózimo da Fonseca, “o automóvel é, neste momento, o ramo mais intensivo para a formação, exceptuando talvez o da navegação aérea”. “Não há formação mais intensiva que a do ramo automóvel. Ora, um dos problemas da formação é geri-la, convocar as pessoas, mandar as convocatórias, saber quem deve ir a qual, ter o histórico, saber tudo isso. Nós desenvolvemos, desde muito cedo, sistemas que operam através da Internet e que asseguram toda essa área, para o que criámos uma nova empresa, a Moonlight, que é hoje uma entidade autónoma, e que nos permite estar na vanguarda de sistemas de formação ao nível da Internet”, acrescentou o nosso interlocutor que assume com um orgulho evidente a realidade do projecto que lidera: “Hoje em dia, somos cinco empresas, sendo a Formoprojectos aquela que encabeça o grupo que, aliás, já se internacionalizou, isto porque temos uma filial em Moçambique – a Formoprojectos Moçambique –, há cinco anos, num país onde todas as grandes empresas, sem excepção, são nossas clientes na área da formação”.
Curiosamente, a Formoprojectos Moçambique não dá formação automóvel, “devido ao facto do mercado local estar ainda incipiente”, funcionando antes junto de bancos e companhias de seguros. Existe ainda a já referida Moonlight, mas também a Papelagem, para a área gráfica e produção de manuais, a Polivalor, uma empresa de projectos transversais, de certificação de vendedores, e a Digitalglobo, uma gráfica apenas para formatos digitais.
Aplicações para a ACAP e… as SCUT
De todas as empresas aqui em questão, as duas principais – Formoprojectos e Polivalor – funcionam na área da formação, trabalhando a Formoprojectos com a gestão da formação e a formação do grupo Ford, Jaguar, Rover, Mazda, fazendo ainda formação, permanente ou pontual, junto da Kia, da BMW e de mais empresas, como o grupo Fiat, mas também da Mitsubishi, Hyundai e Daymler-Chrysler. A Formoprojectos faz ainda, em alguns casos, formação não técnica para o pós-venda. Quanto à Polivalor, faz a formação da Renault Portuguesa, exceptuando a formação técnica.
Ainda no âmbito das actividades da Formoprojectos estão diversos trabalhos com a ACAP e com a Brisa, nomeadamente no que diz respeito às mudanças que estão a ser determinadas para as SCUT. Relativamente a este caso, Jorge Zózimo adianta desde já o desafio que poderá surgir na criação da aplicação para o pagamento das SCUT tendo em conta a legislação e nomeadamente as particularidades que terão que ser tidas em conta referentes às excepções. Outra aplicação desenvolvida pela Formoprojectos envolve a ACAP e tem a haver com as homolugações. Todo o mercado automóvel acaba assim por “passar” pelas aplicações desenvolvidas pela Formoprojectos.
No diálogo com Jorge Zózimo da Fonseca, este deixou clara a diferença entre formação e gestão da formação, sendo a primeira a função de “transmitir conhecimento de todas as formas possíveis – presencial ou não, com ou sem tecnologias, prática ou teórica – havendo ainda uma transmissão de conhecimentos e a consequente avaliação, sempre para se saber se essa formação teve ou não impacto”. “Já a gestão da formação – acrescentou Jorge Zózimo da Fonseca – é permitir que a acção de formação compense, o que passa por permitir que existam formandos e formadores, ainda um local para a formação e a criação de condições para que todos se encontrem ao mesmo tempo. Isto implica que em alguns casos não somos nós a dar formação, mas temos, ainda assim, que gerir a formação”.
Para este tipo de acções, o nosso interlocutor não hesitou em apontar a importância das ferramentas on-line. “Hoje em dia os testes on-line são absolutamente banais. Há que diminuir custos para toda a gente, porque a formação técnica oscila entre os 100 e os 200 euros por dia. Perante isto, a formação passou a ser parcialmente à distância, havendo duas modalidades, nomeadamente uma em que se mandam os manuais e, depois de serem dadas as respostas certas, as pessoas vêm à parte prática, e uma outra situação em que há um self-learning através de um site na Internet, em que o primeiro nível de preparação deixou de ser presencial para ser on-line, permitindo ainda assim a emissão de um certificado”.
Formação é indispensável
Conforme o que se pretende, as acções de formação podem ter como objectivo a criação de conhecimentos suplementares relativamente ao que os formandos já sabem, até do saber adquirido do sistema de ensino, ou simplesmente dotar os formandos de conhecimentos novos para novas áreas de actividade, sendo importante que exista uma noção real do tipo de formação que se pretende. Em Portugal, há uma grande necessidade de formação porque a base é incipiente, sendo esta uma situação bem diferente do que se passa em muitos países da Europa, onde há uma formação vocacional forte. E nem a crise que atravessa o sector automóvel se traduz no investimento por parte das marcas na formação dos seus quadros: “O investimento das marcas na formação técnica não diminuiu, até porque se torna necessária já que a alternativa é ter problemas, insatisfação dos clientes e gastos suplementares em garantias. Nós, enquanto empresa, felizmente, não temos sentido a crise do sector automóvel, mas também porque tomámos medidas para antecipar a crise e podermos dar a resposta certa no momento necessário”.
Além da área automóvel, a Formoprojectos também dá formação em outras áreas, nomeadamente no que respeita ao ensino comportamental e venda. Depois há ainda a área do couching, uma área nova em que são dadas explicações num ambiente particular, específicos dos currículos que os formandos possuem, mas também novas apostas, nomeadamente na área da criatividade e inovação, em que estão a ser iniciados os primeiros cursos, com grandes perspectivas de êxito já que “as pessoas estão carentes de novas ideias”.Certo é que a formação nunca poderá ter a aspiração de substituir o ensino escolar, e isto porque, tal como refere o nosso interlocutor, cada indivíduo tem que definir o seu currículo e os seus objectivos de aprendizagem, e esta passa por uma primeira fase de preparação de base escolar, e só depois por uma fase de preparação suplementar. “O saber não ocupa lugar, e é preciso que as pessoas saibam direccionar os seus objectivos pois o tempo é limitado, mas quem ficar só com os conhecimentos da escola, de certeza absoluta que é um perdedor hoje em dia”, garante o responsável máximo da Formoprojectos.
O diálogo já ia longo pelo que quisemos saber para onde caminha a Formoprojectos. Na resposta, Jorge Zózimo falou na necessidade de diversificação nos serviços prestados, em termos nacionais mas também internacionais. Apesar da crise em que vivemos, o nosso interlocutor não hesitou em qualificar de positiva a perspectiva de futuro para a sua empresa. Já em relação à formação, e nomeadamente no sector automóvel, “vai continuar a ser uma área vital”, devendo a Formoprojectos “continuar ávida pelo conhecimento”.
Training games aplicam-se a qualquer área
À beira do fim do diálogo com Jorge Zózimo houve ainda tempo para abordar a questão dos “training games”, uma nova área de actividade que a Formoprojectos está a desenvolver, capaz de se inserir de uma forma transversal à sociedade, em qualquer área de actividade, e que apenas não avança mais depressa pela dificuldade das pessoas que estão nos postos de decisão em inovar e aceitar coisas novas. Isso mesmo deixou claro Jorge Zózimo: “Não tivemos até agora nenhum cliente que não achasse os training games uma excelente ideia. No entanto, passar depois disso à concretização da ideia é um processo bem mais difícil”.
Em jeito de remate final, ficou ainda a convicção de que Portugal pode retirar os melhores benefícios de estar na Europa para uma intervenção nos países lusófonos, nomeadamente nas ex-colónias do continente africano. Já em relação ao alargamento das empresas dentro do continente europeu, Jorge Zózimo considera que o principal obstáculo a tal crescimento passa pela dificuldade em encontrar pessoas com o perfil necessário para singrarem na Europa. De qualquer modo, esse eventual crescimento na Europa não é actualmente uma prioridade da Formoprojectos, até porque a realidade do mercado obriga as empresas “ a terem juízo”.
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